por Luciana Suárez Grzybowski*
Matamos nossas crianças todos os dias...
quando elas não são nossa prioridade, nem individual, nem familiar, nem social
ou política! Matamos nossas crianças quando trabalhamos demais e terceirizamos
os cuidados em excesso... quando superprotegemos e não deixamos que possam
?ser?... Matamos nossas crianças quando negligenciamos sua fala e abusamos do
seu corpo... quando não lhes damos as mínimas condições de sobrevivência...
Matamos nossas crianças quando lhes damos muitas coisas que podemos comprar, mas
não lhes damos nosso tempo, nossa convivência e nosso amor.
É, matamos
nossas crianças todos os dias! Quando não desejamos tê-las e não conseguimos, na
graça do cotidiano, transformar esse vínculo... matamos nossas crianças quando
as sufocamos com nossos desejos e planos, impedindo que seu ?eu? possa emergir.
Quando a política pública para a infância é desqualificada, subinvestida e
desprestigiada. Matamos nossas crianças quando esperamos delas mais do que podem
dar, fazer ou falar, ou quando não esperamos nada, não as ouvimos e não as
deixamos acontecer.
É, matamos nossas crianças todos os dias! Quando
nossa atenção está condicionada à sua cor, sexo e status social, e não tão
somente à singularidade do seu ser. Matamos nossas crianças quando usamos a
violência física e psicológica e destruímos seus mais belos sonhos infantis.
Matamos nossas crianças ao darmos rotina de adulto, não as deixando brincar,
seja enchendo de atividades extraclasse ou fazendo-as trabalhar. Quando não
ficamos com elas, não olhamos nos seus olhos, não as abraçamos, não as beijamos,
não estamos juntos!
Matamos nossas crianças quando não valorizamos o que
pensam, sentem e dizem... ou quando as deixamos ser os ?tiranos? do lar. Matamos
nossas crianças sempre que elas tornam-se ?um meio para? e não ?o fim em si
próprio?. É, matamos nossas crianças todos os dias! Sim, matamos nossas crianças
quando as infantilizamos ou as robotizamos demais... Matamos nossas crianças
todos os dias, de uma ou outra forma, mas sempre que não olhamos com ternura seu
esplendor e sua potência de vida.
*Psicóloga clínica, professora
(UFCSPA)
Artigo do jornal ZERO HORA, edição de
16/05/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário